Veja o caso clínico neste post: Caso clínico 1.
Perguntas:
1) Por que
João estava bem nos primeiros 6 meses de vida, sem nenhuma infecção? Como você
explicaria isso?
Nas
formas genéticas de deficiência de anticorpos, infecções recorrentes geralmente
começam após os 4 meses de idade, uma vez que a IgG transferida pela mãe
oferece alguma proteção passiva para os primeiros 3-4 meses de vida, conforme pode
ser observado na figura abaixo que trata sobre os “Níveis
séricos de imunoglobulina e sua relação com a idade. A IgG transferida pela mãe
(· · · linha pontilhada) desaparece principalmente após 6 meses. Como o neonato
sintetiza (- linha contínua) IgG, o nível aumenta lentamente, mas uma queda
fisiológica da IgG sérica pode ser vista entre 3 e 6 meses (- - - Total de IgG)”
e que demonstra claramente a queda dos níveis de IgG materna transferida na
gestação, logo nos primeiros meses de vida e o tempo necessário para a criança
sintetizar os níveis adequados de anticorpos.
Em suma, João estava bem nos primeiros 6 meses de
vida por conta dos anticorpos maternos.
Fonte da figura: aqui.
2) Pacientes com alguma imunodeficiência não
devem tomar vacinas de microrganismos atenuados. Vários meninos com
agamaglobulinemia ligada ao X que receberam a vacina da pólio atenuada,
desenvolveram paralisia infantil. Qual a sequência de eventos levou ao
desenvolvimento da pólio nesses meninos?
As vacinas vivas contra a poliomielite são feitas de
vírus com uma mutação incapacitante (desativadora) no gene que permite que o
vírus entre nas células nervosas motoras e cause paralisia. Quando uma criança
normal recebe o poliovírus vivo atenuado oralmente, o poliovírus estabelece uma
infecção inofensiva no intestino. Dentro de 2 semanas o bebê gera anticorpos
IgG e IgA que neutralizam o poliovírus e previnem que a infecção se espalhe, de
modo que, à medida que as células intestinais infectadas morrem, a infecção é
encerrada.
Quando bebês do sexo masculino com agamaglobulinemia
ligada ao X recebem a mesma vacina, eles são incapazes de produzir anticorpos e
a infecção pode persistir, pois eles continuam a excretar o poliovírus do
intestino. Depois de um tempo pode haver uma mutação em alguns dos vírus
que os faz readquirir a capacidade de entrar nas células nervosas
(neurotropismo). Esses chamados vírus reversos se disseminam pela corrente
sanguínea e infectam os neurônios da medula espinhal, causando poliomielite
paralítica.
Para
mais detalhes de quais vacinas podem ser utilizadas, vide o calendário de vacinação da SBIm para pacientes especiais (pág.25).
3) As infecções
recorrentes em João foram por infecções bacterianas por Streptococcus e Haemophilus.
Essas bactérias possuem uma fina cápsula composta de polissacarídeos, que as
protegem do ataque direto por fagócitos. Os humanos produzem anticorpos IgG2
contra esse polissacarídeo. O anticorpo IgG2 “opsoniza” a bactéria, facilitando
a fagocitose por células fagocíticas. Qual outro defeito genético no sistema
imune poderia clinicamente mimetizar a agamaglobulinemia ligada ao x (focar no ponto da opsonização)?
Quais são as classes e subclasses de anticorpos humanos?
A
deficiência hereditária no componente C3 do sistema complemento. A
fixação do C3 à superfície bacteriana, seja pelas vias clássicas,
alternativas ou da lectina de ativação do complemento, leva à sua clivagem
em C3b e C3a. O menor pedaço, C3a estimula a inflamação. O maior pedaço, o C3b,
inicia as etapas tardias da ativação do sistema complemento, e é responsável,
também, pela opsonização dos microrganismos. Os microrganismos opsonizados são mais
facilmente reconhecidos pelo receptor de C3b dos fagócitos. Imagine
o seguinte, que o C3b funcione como um sinalizador e ao se ligar na superfície dos
microrganismos, acaba sinalizando para os fagócitos que algo estranho está
presente e precisa ser destruído. O C3b é o agente mais importante para a
opsonização de bactérias encapsuladas. Então, podemos observar que o
componente C3 do sistema complemento desenvolve uma atividade muito similar a
dos anticorpos, a opsonização (ver figura abaixo).
Fonte:
Abbas
As imunoglobulinas podem ser divididas em cinco classes diferentes,
com base nas diferenças em sequências de aminoácidos na região constante das
cadeias pesadas. Todas as imunoglobulinas de uma mesma classe têm regiões
constantes de cadeia pesada muito similares. Essas diferenças podem ser
detectadas por estudos de sequências ou mais comumente por meios sorológicos
(ou seja, pelo uso de anticorpos dirigidos a essas diferenças). São elas:
1. IgG;
2. IgM;
3. IgA;
4. IgD;
5. IgE.
Além disso, as classes de imunoglobulinas podem ser divididas em
subclasses baseadas em pequenas diferenças nas sequências de aminoácidos na
região constante das cadeias pesadas. Todas as imunoglobulinas de uma subclasse
têm sequências de aminoácidos de região constante de cadeia pesada muito
similares. Novamente essas diferenças são mais comumente detectadas por meios
sorológicos. São elas:
1. Subclasses de IgG
a) IgG1;
b) IgG2;
c) IgG3;
d) IgG4.
2. Subclasses de IgA
a) IgA1;
b) IgA2.
4)
Qual a explicação para as
infecções virais e por bactérias intracelulares serem incomuns em crianças com
agamaglubolinemia ligada ao x?
Embora
indivíduos com incapacidade hereditária de produzir anticorpos estejam sujeitos
a infecções recorrentes, estas são quase exclusivamente causadas por patógenos
bacterianos extracelulares, como Haemophilus influenzae, Streptococcus
pneumoniae, Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus.
Uma pesquisa com dezenas de históricos de meninos com esse defeito estabeleceu
que eles não têm problemas com infecções intracelulares, como as causadas pelas
doenças virais comuns da infância. O número de células T e suas funções em
homens com agamaglobulinemia ligada ao X são normais, e esses indivíduos,
portanto, têm respostas mediadas por células normais, que são capazes de
encerrar infecções virais e infecções com bactérias intracelulares, como
aquelas que causam tuberculose.
Texto: Juliana Santos Teles
Revisão técnica: Diego Moura Tanajura
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