segunda-feira, 2 de maio de 2022

Antivirais na COVID-19. O que temos de novo?

 Neste artigo discutimos:

O que são os antivirais?

Quatro drogas estudadas para a COVID-19: Paxlovid, Remdesivir, Monulpiravir e o S-217622;

Os antivirais substituem a vacina?


1.     O que são os antivirais?

Não é incomum ouvir de um parente ou amigo próximo que ele fez uso de um medicamento qualquer e acabou se curando de uma doença. Isso é erro que ocorre frequentemente e está associado a um conceito simples chamado de “autolimitação das doenças infecciosas”. Portanto, isso significa que o seu sistema imunológico consegue combater a maioria das infecções independente da intervenção (medicamento por exemplo) que você utilizar. A COVID-19 tem cerca de 80% de cura espontânea, isto é, em 100 pessoas, cerca de 80 vão ter apenas sintomas leves.

Entretanto, uma classe de medicamentos denominada de “antivirais” tem chamado a atenção por apresentarem bons resultados contra a COVID-19. Eles são fármacos que agem sobre os componentes virais específicos para tentar frear a proliferação viral  ou bloquear a infecção. Sendo assim, discutiremos sobre 4 deles: Paxlovid, Remdesivir, Monulpiravir e o S-217622.


2.     Paxlovid

O Paxlovid foi criado pela Pfizer em meados dos anos 2000 para lidar com as primeiras variantes de coronavírus SARS-CoV. Porém, ele foi remodelado algumas vezes, bem no começo da pandemia, para tentar ser funcional contra o coronavírus atual, o SARS-CoV-2. Além disso, ele mudou a sua forma de aplicação que seria por via intramuscular e passou agora a ser administrado como uma simples pílula. Em estudos com ratos, a sua administração oral levou a um bom nível de bloqueio do coronavírus nesses modelos animais. Já nos estudos de fase 3, feitos em humanos, a Pfizer conseguiu resultados em pessoas não vacinadas e de alto risco de infecção que chegavam a 88% de redução de mortalidade, se aplicados até o quinto dia de início dos sintomas, sendo também eficaz contra a variante Ômicron. Esse fato levou o FDA (órgão regulador americano similar à Anvisa) em dezembro de 2021 a aprovar o uso emergencial do Paxlovid para pacientes com 12 anos ou mais não hospitalizados e que tivessem alto risco. O Brasil não fica para trás. No finalzinho de março (30) de 2022, a Anvisa também aprovou o uso emergencial do Paxlovid para adultos.  


3.     Remdesivir

O Remdesivir, dentre os antivirais, é o único 100% aprovado pelo FDA para tratamento da COVID-19. Antes, ele apenas era utilizado para pacientes hospitalizados, porém, agora, pode-se utilizar em pacientes que apresentem infecções leves ou moderadas, com alto risco de evolução para formas graves.

A história do Remdesivir é interessante. O medicamento foi inicialmente desenvolvido para Ebola e hepatite C. No entanto, os resultados não foram satisfatórios. Já na COVID-19, a droga teve bons resultados, reduzindo o tempo de hospitalização de 15 para 10 dias . Porém mesmo com esses resultados, a comunidade científica teve certos questionamentos sobre a evidência e como ele poderia ser prescrito amplamente. Até mesmo a OMS fez um grande estudo clínico global que contrariou os resultados iniciais de que ele poderia reduzir tempo de hospitalização ou risco de ir para a ventilação mecânica. Ao final, estudos mais recentes em voluntários não hospitalizados que tiveram um diagnóstico recente de COVID-19 e foram tratados, apresentaram uma redução de 87% no risco de hospitalização ou morte. Desse modo, o FDA deu autorização para que ele fosse utilizado em adultos e crianças não-hospitalizados. No Brasil, o Remdesivir teve registro concedido em março de 2021.


4.     Molnupiravir

O Molnupiravir foi uma pílula desenvolvida inicialmente para combater a gripe. Porém, como em outros casos, também apresentou um bom efeito contra a COVID-19, principalmente nos estudos que analisaram as células de pulmão e em animais. Isso levou a empresa Merck a seguir em frente com os estudos em outubro de 2020 em pacientes hospitalizados.  No entanto, os resultados não foram animadores e o estudo de fase 3 foi encerrado em abril de 2021. Ainda no mesmo ano, em outubro, tentaram outro estudo em pacientes ambulatoriais de alto risco e conseguiram ao final um resultado de 30% de redução no risco de hospitalização e morte. 

A partir daí, diversos países tiveram experiencias distintas com o Molnupiravir. O Reino Unido e os EUA tiveram uma similaridade na aceitação do fármaco, apesar de uma relativa desconfiança do primeiro quanto ao risco em grávidas. Um exemplo contrário, foi o da França que teve muitas dúvidas após um mês de uso emergencial e retirou o medicamento de seus protocolos, assim como a Índia. A posição da OMS foi favorável ao uso em pacientes não graves de alto risco. Um fator que encorajou muito foi um estudo clínico na Índia que demonstrou uma redução de 65% no risco de hospitalização em fevereiro de 2022. No Brasil, ainda está em andamento a análise do pedido de uso emergencial do Molnupiravir.


5.     S-217622

Esse medicamento com nome não muito memorável, está progredindo com resultado bastante promissor no Japão. A empresa Shionigi produziu esse medicamento para agir na mesma proteína em que age o Paxlovid. Um estudo pré-clínico apresentou resultados promissores em modelos animais. Em 2022, foi realizado um estudo clínico, visando a aprovação pelo FDA (EUA). Logo após, ainda em 16 de março, o órgão regulador americano deu o aval para o prosseguimento para a terceira fase de estudos clínicos.


6.     Os antivirais substituem a vacina?

A resposta é não. Os medicamentos antivirais e as vacinas possuem mecanismos distintos. O primeiro tenta impedir a replicação viral ou bloquear a infecção por atingir mecanismos específicos desse processo. O segundo tenta, através de um estímulo do sistema imune, realizar a produção de anticorpos (a chamada imunidade humoral) e criar uma memória imunológica (uma resposta duradoura contra o vírus). Sendo assim, apesar de terem um objetivo em comum que é combater o vírus, eles acabam se complementando. Além de existir situações em que não se pode utilizar um dos dois (contraindicações). Portanto, quanto mais ferramentas surgirem para essa batalha contra o vírus melhor!


Texto: Vitor Guilherme Oliveira Dinizio

Revisão técnica: Diego Moura Tanajura 

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