Neste artigo discutimos:
O que são os antivirais?
Quatro drogas estudadas para a COVID-19: Paxlovid, Remdesivir, Monulpiravir e o S-217622;
Os antivirais substituem a vacina?
1. O
que são os antivirais?
Não
é incomum ouvir de um parente ou amigo próximo que ele fez uso de um
medicamento qualquer e acabou se curando de uma doença. Isso é erro que ocorre
frequentemente e está associado a um conceito simples chamado de “autolimitação
das doenças infecciosas”. Portanto, isso significa que o seu sistema
imunológico consegue combater a maioria das infecções independente da
intervenção (medicamento por exemplo) que você utilizar. A COVID-19 tem cerca
de 80% de cura espontânea,
isto é, em 100 pessoas, cerca de 80 vão ter apenas sintomas leves.
Entretanto,
uma classe de medicamentos denominada de “antivirais” tem chamado a atenção por
apresentarem bons resultados contra a COVID-19. Eles são fármacos que agem
sobre os componentes virais específicos para tentar frear a proliferação viral
ou bloquear a infecção. Sendo assim, discutiremos sobre 4
deles: Paxlovid, Remdesivir, Monulpiravir e o S-217622.
2. Paxlovid
O
Paxlovid foi criado pela Pfizer em meados dos anos 2000 para lidar com as
primeiras variantes de coronavírus SARS-CoV. Porém, ele foi remodelado algumas
vezes, bem no começo da pandemia, para tentar ser funcional contra o
coronavírus atual, o SARS-CoV-2. Além disso, ele mudou a sua forma de aplicação
que seria por via intramuscular e passou agora a ser administrado como uma
simples pílula. Em estudos com ratos, a sua administração oral levou a um bom
nível de bloqueio do coronavírus nesses modelos animais. Já nos estudos de fase
3, feitos em humanos, a Pfizer conseguiu resultados em pessoas não vacinadas
e de alto risco de infecção que chegavam a 88% de redução de mortalidade,
se aplicados até o quinto dia de início dos sintomas, sendo também eficaz
contra a variante Ômicron. Esse fato levou o FDA (órgão regulador americano
similar à Anvisa) em dezembro de 2021 a aprovar o uso emergencial do Paxlovid
para pacientes com 12 anos ou mais não hospitalizados e que tivessem alto
risco. O Brasil não fica para trás. No finalzinho de março (30) de 2022,
a Anvisa também aprovou o uso emergencial do Paxlovid para adultos.
3. Remdesivir
O
Remdesivir, dentre os antivirais, é o único 100% aprovado pelo FDA para
tratamento da COVID-19. Antes, ele apenas era utilizado para pacientes
hospitalizados, porém, agora, pode-se utilizar em pacientes que
apresentem infecções leves ou moderadas, com alto risco de evolução para formas
graves.
A história do Remdesivir é interessante. O medicamento foi inicialmente desenvolvido para Ebola e hepatite C. No entanto, os resultados não foram satisfatórios. Já na COVID-19, a droga teve bons resultados, reduzindo o tempo de hospitalização de 15 para 10 dias . Porém mesmo com esses resultados, a comunidade científica teve certos questionamentos sobre a evidência e como ele poderia ser prescrito amplamente. Até mesmo a OMS fez um grande estudo clínico global que contrariou os resultados iniciais de que ele poderia reduzir tempo de hospitalização ou risco de ir para a ventilação mecânica. Ao final, estudos mais recentes em voluntários não hospitalizados que tiveram um diagnóstico recente de COVID-19 e foram tratados, apresentaram uma redução de 87% no risco de hospitalização ou morte. Desse modo, o FDA deu autorização para que ele fosse utilizado em adultos e crianças não-hospitalizados. No Brasil, o Remdesivir teve registro concedido em março de 2021.
4. Molnupiravir
O
Molnupiravir foi uma pílula desenvolvida inicialmente para combater a gripe.
Porém, como em outros casos, também apresentou um bom efeito contra a COVID-19,
principalmente nos estudos que analisaram as células de pulmão e
em animais.
Isso levou a empresa Merck a seguir em frente com os estudos em outubro de 2020
em pacientes hospitalizados. No
entanto, os resultados não foram animadores e o estudo de fase 3 foi encerrado
em abril de 2021. Ainda no mesmo ano, em outubro, tentaram outro estudo em pacientes
ambulatoriais de alto risco e conseguiram ao final um resultado de 30% de redução no risco de hospitalização e morte.
A
partir daí, diversos países tiveram experiencias distintas com o Molnupiravir.
O Reino Unido e os EUA tiveram uma similaridade na aceitação do fármaco, apesar
de uma relativa desconfiança do primeiro quanto ao risco em grávidas. Um
exemplo contrário, foi o da França que teve muitas dúvidas após um mês de uso
emergencial e retirou o medicamento de seus protocolos, assim como a Índia. A
posição da OMS foi favorável ao uso em pacientes não graves de alto risco.
Um fator que encorajou muito foi um estudo clínico na Índia que demonstrou uma redução de 65% no
risco de hospitalização em fevereiro de 2022. No Brasil, ainda está em
andamento a análise do pedido de uso emergencial do Molnupiravir.
5. S-217622
Esse medicamento com nome não muito memorável, está progredindo com resultado bastante promissor no Japão. A empresa Shionigi produziu esse medicamento para agir na mesma proteína em que age o Paxlovid. Um estudo pré-clínico apresentou resultados promissores em modelos animais. Em 2022, foi realizado um estudo clínico, visando a aprovação pelo FDA (EUA). Logo após, ainda em 16 de março, o órgão regulador americano deu o aval para o prosseguimento para a terceira fase de estudos clínicos.
6. Os
antivirais substituem a vacina?
A
resposta é não. Os medicamentos antivirais e as vacinas possuem mecanismos
distintos. O primeiro tenta impedir a replicação viral ou bloquear a
infecção por atingir mecanismos específicos desse processo. O segundo tenta,
através de um estímulo do sistema imune, realizar a produção de anticorpos (a
chamada imunidade humoral) e criar uma memória imunológica (uma resposta
duradoura contra o vírus). Sendo assim, apesar de terem um objetivo em comum
que é combater o vírus, eles acabam se complementando. Além de existir
situações em que não se pode utilizar um dos dois (contraindicações). Portanto,
quanto mais ferramentas surgirem para essa batalha contra o vírus melhor!
Texto: Vitor Guilherme Oliveira Dinizio
Revisão técnica: Diego Moura Tanajura
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