Neste artigo discutimos:
- Retorno das doenças da infância;
- Segurança e efetividade da CoronaVac;
- Estudo na China;
- Estudos no Chile;
- Importância da vacinação de crianças e
adolescentes.
Para ler o texto sobre a vacinação com a Pfizer em crianças, clique aqui.
Uma grande preocupação na área da saúde nos últimos anos tem
sido o avanço do movimento antivacina. Mesmo antes da pandemia, muitas pessoas se
recusavam a tomar as vacinas e, também, não vacinavam seus filhos, o que levou
a volta das chamadas “doenças da infância”, como o sarampo. Só para se ter uma
ideia da situação grave que vivemos, em 2016, o Brasil foi reconhecido pela
Organização Pan-Americana de Saúde como área livre do sarampo. Essa conquista
aconteceu graças às políticas de vacinação, com destaque para o Plano Nacional
de Vacinação do Sarampo, de 1992. Infelizmente, esse reconhecimento de área
livre do vírus durou pouco. Em 2018, o Brasil perdeu essa certificação por
conta da queda nas taxas de vacinação. Outra doença que pode reaparecer é a
paralisia infantil, causada pelo vírus da pólio.
No cenário atual, temos visto ainda mais desinformação a
respeito das vacinas contra COVID-19 e sua indicação para o público infantil.
Será que as vacinas são mesmo seguras e eficientes para as crianças?
Os estudos com a CoronaVac mostram que sim – a vacina é
segura e eficaz em proteger contra hospitalizações e internações devido à
doença.
O primeiro estudo, na
China
A Sinovac, empresa farmacêutica que desenvolveu a CoronaVac,
conduziu um estudo para comprovar a segurança da vacina em um público de 3 a 17anos ainda em 2020. Iniciado em outubro de 2020, o estudo contou com 550
crianças divididas em duas fases – 71 na primeira e 479 na segunda – e foi
feita a aplicação de duas doses da vacina em um grupo e de placebo em outro, com
intervalo de 28 dias entre elas. O objetivo foi analisar a tolerabilidade, a
segurança e a imunogenicidade da vacina em crianças e adolescentes, além da
dosagem mais efetiva, de 1,5 μg (menor dose) ou 3,0 μg (mesma dose do adulto).
Os resultados mostraram que a vacina é segura em suas duas doses para essa
faixa etária e apresenta reações leves a moderadas, sendo a mais relatada a dor
no local da aplicação, o que já é esperado.
Além disso, a CoronaVac mostrou ser imunogênica nesse grupo
de 3 a 17 anos, ou seja, houve uma boa resposta imunológica com a produção de
anticorpos após as duas doses, principalmente com a dosagem de ou 3,0 μg. Inclusive,
os índices de soroconversão nessa maior dose (3,0 μg – mesma dose dos adultos) foram
de 100%, uma imunogenicidade maior até do que a observada em adultos. Com isso,
os resultados mostraram que a vacina é segura e capaz de induzir uma forte
resposta humoral.
Os estudos no Chile
sobre a efetividade da CoronaVac
Só para relembrar, efetividade é a eficácia da vacina na
vida real. A eficácia é obtida nos ensaios clínicos e a efetividade através dos
dados da população vacinada.
Outro estudo com a CoronaVac, realizado no Chile de junho de2021 a janeiro de 2022, analisou a efetividade da vacina em um universo de 2
milhões de crianças de 6 a 16 anos, divididas em dois grupos: vacinadas com as
duas doses e não vacinadas. Com isso, os pesquisadores observaram que a
efetividade da vacina foi de 74,5% contra a infecção, 91% para evitar
hospitalizações e 93,8% para internações em UTI. Ainda nesse estudo, um
subgrupo de crianças de 6 a 11 anos apresentou uma resposta de 75,8% de
efetividade para prevenir a infecção e 77,9% contra hospitalizações, sendo que
nenhuma das crianças vacinadas precisou ser internada na UTI. Os cientistas,
então, concluíram que as duas doses da vacina protegem contra casos graves e
complicações da COVID-19, a exemplo da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P).
Posteriormente, foi produzido mais um estudo, no período de
dezembro de 2021 a fevereiro de 2022, que comprovou a eficiência da vacina em
crianças mais novas durante o surto causado pela variante Ômicron. Participaram
da pesquisa cerca de 500 mil crianças de 3 a 5 anos, semelhante ao estudo
anterior, com os seguintes resultados: 38,2% de efetividade contra a
infecção, 64,6% contra hospitalizações e 69% para a prevenção de internações em
UTI. Nesse estudo, a efetividade da vacina contra a infecção foi mais
baixa, quando comparada com a anterior, e por isso deve-se considerar o
surto da Ômicron naquele período, já que essa variante possuía, até o
momento, os índices mais altos de infecção observados na pandemia. Portanto, os
resultados mostraram que a efetividade contra infecção foi moderada, mas
permaneceu alta contra os casos graves e as complicações da doença.
Conclusão
Nesses três estudos com a CoronaVac participaram crianças
com idades diferentes, de países diferentes e foram realizados em períodos
também distintos (em diferentes ondas da doença e, consequentemente, diferentes
variantes), resultando em dados suficientes para atestar a segurança e
efetividade da vacinação de crianças e adolescentes contra a o SARS-CoV-2 e
suas variantes. Logo, por mais que grande parte desse público tenha sintomas
leves da COVID-19 ou fiquem assintomáticos, existe a chance de desenvolver
complicações e ainda não sabemos os efeitos da doença a longo prazo (síndrome pós-COVID-19),
por isso é fundamental que as crianças sejam vacinadas.
Texto: Nathalia de Azevedo Souza
Revisão técnica: Diego Moura Tanajura
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