terça-feira, 12 de abril de 2022

Vacinação com a CoronaVac em crianças e adolescentes

 Neste artigo discutimos:

- Retorno das doenças da infância;

- Segurança e efetividade da CoronaVac;

- Estudo na China;

- Estudos no Chile;

- Importância da vacinação de crianças e adolescentes. 


Para ler o texto sobre a vacinação com a Pfizer em crianças, clique aqui.

Uma grande preocupação na área da saúde nos últimos anos tem sido o avanço do movimento antivacina. Mesmo antes da pandemia, muitas pessoas se recusavam a tomar as vacinas e, também, não vacinavam seus filhos, o que levou a volta das chamadas “doenças da infância”, como o sarampo. Só para se ter uma ideia da situação grave que vivemos, em 2016, o Brasil foi reconhecido pela Organização Pan-Americana de Saúde como área livre do sarampo. Essa conquista aconteceu graças às políticas de vacinação, com destaque para o Plano Nacional de Vacinação do Sarampo, de 1992. Infelizmente, esse reconhecimento de área livre do vírus durou pouco. Em 2018, o Brasil perdeu essa certificação por conta da queda nas taxas de vacinação. Outra doença que pode reaparecer é a paralisia infantil, causada pelo vírus da pólio.

No cenário atual, temos visto ainda mais desinformação a respeito das vacinas contra COVID-19 e sua indicação para o público infantil. Será que as vacinas são mesmo seguras e eficientes para as crianças?

Os estudos com a CoronaVac mostram que sim – a vacina é segura e eficaz em proteger contra hospitalizações e internações devido à doença.


O primeiro estudo, na China

A Sinovac, empresa farmacêutica que desenvolveu a CoronaVac, conduziu um estudo para comprovar a segurança da vacina em um público de 3 a 17anos ainda em 2020. Iniciado em outubro de 2020, o estudo contou com 550 crianças divididas em duas fases – 71 na primeira e 479 na segunda – e foi feita a aplicação de duas doses da vacina em um grupo e de placebo em outro, com intervalo de 28 dias entre elas. O objetivo foi analisar a tolerabilidade, a segurança e a imunogenicidade da vacina em crianças e adolescentes, além da dosagem mais efetiva, de 1,5 μg (menor dose) ou 3,0 μg (mesma dose do adulto). Os resultados mostraram que a vacina é segura em suas duas doses para essa faixa etária e apresenta reações leves a moderadas, sendo a mais relatada a dor no local da aplicação, o que já é esperado.

Além disso, a CoronaVac mostrou ser imunogênica nesse grupo de 3 a 17 anos, ou seja, houve uma boa resposta imunológica com a produção de anticorpos após as duas doses, principalmente com a dosagem de ou 3,0 μg. Inclusive, os índices de soroconversão nessa maior dose (3,0 μg – mesma dose dos adultos) foram de 100%, uma imunogenicidade maior até do que a observada em adultos. Com isso, os resultados mostraram que a vacina é segura e capaz de induzir uma forte resposta humoral.


Os estudos no Chile sobre a efetividade da CoronaVac

Só para relembrar, efetividade é a eficácia da vacina na vida real. A eficácia é obtida nos ensaios clínicos e a efetividade através dos dados da população vacinada.

Outro estudo com a CoronaVac, realizado no Chile de junho de2021 a janeiro de 2022, analisou a efetividade da vacina em um universo de 2 milhões de crianças de 6 a 16 anos, divididas em dois grupos: vacinadas com as duas doses e não vacinadas. Com isso, os pesquisadores observaram que a efetividade da vacina foi de 74,5% contra a infecção, 91% para evitar hospitalizações e 93,8% para internações em UTI. Ainda nesse estudo, um subgrupo de crianças de 6 a 11 anos apresentou uma resposta de 75,8% de efetividade para prevenir a infecção e 77,9% contra hospitalizações, sendo que nenhuma das crianças vacinadas precisou ser internada na UTI. Os cientistas, então, concluíram que as duas doses da vacina protegem contra casos graves e complicações da COVID-19, a exemplo da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P).

Posteriormente, foi produzido mais um estudo, no período de dezembro de 2021 a fevereiro de 2022, que comprovou a eficiência da vacina em crianças mais novas durante o surto causado pela variante Ômicron. Participaram da pesquisa cerca de 500 mil crianças de 3 a 5 anos, semelhante ao estudo anterior, com os seguintes resultados: 38,2% de efetividade contra a infecção, 64,6% contra hospitalizações e 69% para a prevenção de internações em UTI. Nesse estudo, a efetividade da vacina contra a infecção foi mais baixa, quando comparada com a anterior, e por isso deve-se considerar o surto da Ômicron naquele período, já que essa variante possuía, até o momento, os índices mais altos de infecção observados na pandemia. Portanto, os resultados mostraram que a efetividade contra infecção foi moderada, mas permaneceu alta contra os casos graves e as complicações da doença.


Conclusão

Nesses três estudos com a CoronaVac participaram crianças com idades diferentes, de países diferentes e foram realizados em períodos também distintos (em diferentes ondas da doença e, consequentemente, diferentes variantes), resultando em dados suficientes para atestar a segurança e efetividade da vacinação de crianças e adolescentes contra a o SARS-CoV-2 e suas variantes. Logo, por mais que grande parte desse público tenha sintomas leves da COVID-19 ou fiquem assintomáticos, existe a chance de desenvolver complicações e ainda não sabemos os efeitos da doença a longo prazo (síndrome pós-COVID-19), por isso é fundamental que as crianças sejam vacinadas.

 

Texto: Nathalia de Azevedo Souza

Revisão técnica: Diego Moura Tanajura 

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