quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Como surgiu o mito da ligação entre vacinas e autismo

 

Vacinas: uma das maiores invenções da ciência

Antes de entrar na discussão deste mito, é muito importante destacar que as vacinas foram uma das maiores invenções da ciência! As vacinas, juntas com o saneamento básico, ajudaram a diminuir de forma drástica o número de óbitos por doenças infeciosas.  A vacina serve para minimizar os efeitos de uma doença ou evitar que o indivíduo fique doente. Durante a pandemia atual, ficou bem claro o papel das vacinas na diminuição do número de hospitalizações e mortes por COVID-19. Foi através da vacinação que conseguimos erradicar a varíola humana do mundo (para saber mais) e eliminar o sarampo do território brasileiro por algum tempo, até perdermos está conquista por conta da baixa taxa vacinal em nossas crianças nos últimos anos.


E como surgiu a falsa ligação entre vacinas e autismo?

Em fevereiro de 1998, o médico britânico Andrew Wakefield publicou um artigo fraudulento na conceituada revista Lancet, levantando uma possível associação entre a vacina tríplice viral (protege contra Sarampo, Caxumba e rubéola) e o autismo. O artigo de Wakefield e mais 12 colaboradores foi realizado com uma amostra de 12 crianças (tamanho amostral pequeno), sem grupo controle e com uma conclusão muito especulativa e que mesmo assim, recebeu muita publicidade. Isso foi o suficiente para diminuir a taxa de vacinação no Reino Unido (Figura 1) e ao redor do mundo.

No gráfico da figura 1 fica claro que após a publicação do artigo fraudulento, em 1998, ocorre uma diminuição importante na taxa de vacinação com a tríplice viral e, consequentemente, um aumento de casos por sarampo. Vale destacar que a cobertura ideal contra o Sarampo deve ser de 95% do público-alvo vacinado. O artigo ganhou muita visibilidade na mídia e é, até hoje, utilizado em sites e blogs dos movimentos antivacinas.



Figura 1. Cobertura vacinal e casos confirmados de sarampo no Reino Unido e Irlanda.


Após a publicação do artigo, um médico que auxiliou o Andrew Wakefield veio a público e desmentiu os resultados encontrados no estudo e que estes eram falsos. Além disso, em 2004 foi descoberto que Wakefield, antes da publicação do falso estudo, solicitou um pedido de patente de uma vacina contra sarampo que concorreria com a tríplice viral. Demonstrando assim, o real motivo do médico em querer acabar com a credibilidade da vacina.

Podemos observar que o médico Andrew Wakefield possuía um nítido conflito de interesse em derrubar a reputação da vacina tríplice viral, pois isso seria benéfico e lucrativo, por conta da sua vacina contra o Sarampo.

Em 2010, o Conselho Geral de Medicina retirou a licença médica do Wakefield e classificou seu comportamento como irresponsável, antiético e enganoso. E a revista Lancet retratou o artigo publicado, somente 12 anos depois de sua publicação (Figura 2)!!!

Para se ter uma ideia do quão antiético é o médico , ele realizava os estudos sem a aprovação ética do hospital em que trabalhava e, durante a festa de aniversário do seu filho, ele pagou para as crianças doarem sangue para estudos, sem o consentimento dos pais.




Figura 2. O trabalho foi contestado pela revista Lancet.



Apesar de diversos outros trabalhos desmentirem a associação entre a vacinação e o desenvolvimento de autismo, além da descoberta de fraude na publicação do artigo de Wakefield, o prejuízo causado pela irresponsabilidade do médico é ainda visto nos dias de hoje no mundo inteiro.

Para finalizar, é importante reforçar que nenhum trabalho científico demonstrou associação entre vacinas e autismo.


Veja o vídeo que gravamos sobre o tema para o projeto Imuno Ensina da Universidade Federal do Ceará. 


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