Neste artigo discutimos:
Imunodeficiências: primária x
secundária;
Imunodeficiência comum
variável (CVID);
Síndrome da Imunodeficiência
Humana Adquirida (AIDS);
Imunodeficiências e a
vacinação contra a COVID-19.
As
imunodeficiências configuram um grupo de doenças e síndromes, que debilitam o
sistema imune de tal maneira que até a simples resposta a um resfriado comum
é comprometida. Elas são divididas em primária, quando o defeito é
congênito, e secundária, também chamada de adquirida, pois são,
normalmente, manifestadas ou relacionadas à fatores externos,
Ambas
podem prejudicar o sistema imune inato e/ou adaptativo. O sistema inato
compreende as barreiras iniciais às infecções, como a pele ou o suco gástrico,
bem como fagócitos, células NK e o sistema complemento. O sistema imune
inato já nasce pronto para entrar em ação. Já o adaptativo, está
relacionado aos linfócitos T e B, realizando uma resposta coordenada do sistema
inato, além de atuar com maior eficácia e especificidade a um determinado
patógeno. O sistema adaptativo precisa ser treinado para entrar em ação. Este
treino pode ser por uma infecção ou através da vacinação, por exemplo2.
1. Imunodeficiências
primárias
Compreendidos
os conceitos básicos, pode-se, a priori, discorrer sobre as imunodeficiências primárias. Elas surgem congenitamente, ou seja, elas são fruto de um defeito
genético herdado. As deficiências podem ir desde defeitos nas proteínas do
complemento (fazem parte da imunidade inata) à até mesmo falhas no
desenvolvimento dos linfócitos T e B (fazem parte da imunidade adaptativa).
1.1
Imunodeficiência comum variável (CVID)
A imunodeficiência
comum variável (CVID) é a mais comum em adolescentes e adultos jovens. A CVID é caracterizada por baixos níveis de
anticorpos, devido a um problema na sua produção. Essa baixa pode ser causada
por defeitos no desenvolvimento de células B em plasmócitos (células secretoras
de anticorpos), ou defeitos na produção de um anticorpo específico por essa
célula. Isso está relacionado a alterações em genes que codificam as proteínas
necessárias para que haja o funcionamento normal desse processo2.
1.2 Consequências
da CVID
A relevância
disso se deve ao fato de os anticorpos facilitarem o combate aos invasores,
pois neutralizam patógenos ou sinalizam qual o agente deve ser combatido pelo
sistema imune (opsonização). Sendo assim, na prática clínica, as infecções mais
frequentes em adultos com CVID acometem o trato respiratório, incluindo otite
média de repetição, sinusite crônica e pneumonia de repetição, o que pode
resultar em destruição dos brônquios1.
2. Imunodeficiências
secundárias
Por conseguinte, as
imunodeficiências secundárias são caracterizadas por um evento que é externo ao
fator genético. Por isso, são chamadas de adquiridas, visto que se não houvesse
esse empecilho, o sistema imune seria funcional. As causas mais comuns são: o
uso de imunossupressores, as neoplasias causadoras de leucemias na medula
óssea, diabetes mellitus, as doenças graves prolongadas, infecções e até mesmo
a desnutrição!
2.1 Síndrome
da Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS)
A mais
conhecida é a AIDS, a Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida, causada
pelo retrovírus HIV. A base para essa imunodeficiência é a infecção e
destruição de linfócitos T CD4 que comandam a resposta imune adaptativa – O
HIV acaba infectando a célula que orquestra o nosso sistema imunológico, o
linfócito T CD4!! - Inicialmente, apesar do vírus estar presente nesses
linfócitos a doença ainda não é manifestada, entrando, portanto, em um estado
de latência, se multiplicando em órgãos linfoides como o baço. Logo após, quando
a destruição desses linfócitos pelo vírus superar a produção corporal, a
imunidade comandada pelo linfócito T CD4 estará comprometida2.
2.2
Consequências da AIDS
A principal consequência de perder essa
ferramenta é a suscetibilidade a infecções oportunistas, que são infecções que
se instalam nos pacientes devido a uma deficiência em seu sistema imune. Sendo elas: infecções por Herpes zóster (causada pelo mesmo vírus da catapora),
Herpes simples, tuberculose, candidíase oral, infecções por Mycobacterium
avium, dentre outras.
3.Imunodeficiências
e a vacinação contra a COVID-19
As
pessoas com um quadro de imunodeficiência acabam apresentando uma menor
resposta às vacinas. A depender do tipo de imunodeficiência, a pessoa pode
apresentar uma menor resposta humoral (produção de anticorpos), celular e até redução
nas duas respostas.
Para
algumas vacinas, o esquema de vacinação deve ser modificado para o tipo de imunossupressão
que o paciente apresenta. Isso pode acarretar doses dobradas, esquemas com
número de doses maiores, doses de reforço, menor intervalo entre as doses de
reforço e até mesmo indicação de vacinas fora do calendário de rotina para a
idade. Para um maior detalhamento, sugiro o tópico de “Pacientes Especiais”
da Sociedade Brasileira de Imunização.
No
caso das vacinas contra a COVID-19, já temos evidências que os pacientes com
imunodeficiência falham em montar uma resposta adequada para o esquema vacinal
padrão (2 doses da vacina). Importante destacar que o esquema padrão de duas
doses é efetivo para o restante da população. Estas pessoas, que possuem
“imunidade normal”, estão recebendo doses de reforço por outros motivos, como
redução da efetividade da vacina com o passar dos meses e o surgimento de novas
variantes. No caso do paciente com imunodeficiência, mesmo após o esquema
de duas doses, a vacina não induz um padrão de resposta adequado e proteção como
observado no restante da população. Por conta disso, o esquema padrão desses
pacientes deve ser de três doses da vacina, ao invés de duas doses. Após essas
3 doses é recomendado uma dose de reforço, ou seja, o paciente com
imunodeficiência deve tomar quatro doses da vacina.
Para
ter uma ideia sobre a diferença da efetividade da vacina entre pessoas com
imunodeficiência e pessoas sem imunodeficiência, vamos dar uma olhada no
relatório do CDC com dados da vacina da Pfizer e Moderna, ambas de RNA. Após duas doses da vacina, as pessoas com
imunodeficiência apresentaram uma efetividade de 63%, enquanto nas pessoas sem
imunodeficiência foi de 90%!
Diante
do exposto, é altamente recomendado que pessoas com quadro de imunodeficiência
devem completar o esquema vacinal com as 3 doses e tomar a dose de reforço,
quarta dose. Além disso, é muito importante que os contatos familiares, também,
completem o esquema padrão de vacinação.
4.Considerações
finais
As
imunodeficiências têm duas classificações e que podem existir por uma
predisposição genética para tal, se for primária, ou ser adquirida em
especificidade por qualquer indivíduo, se for secundária. A compreensão sobre o
tema ainda requer diversos estudos, para que futuramente se possa tratar com
maior efetividade essas condições.
Referências (livros):
1. GOLDMAN, L.; SCHAFER, A. Goldman Cecil Medicina. 24ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014;
2. ABBAS, A. K; LITCHTMAN, A. H; PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular. 9ª ed. Rio de janeiro: GEN Guanabara Koogan, 2019.
Texto: Vitor Guilherme Oliveira
Dinizio
Revisão técnica: Diego Moura
Tanajura
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