sexta-feira, 16 de junho de 2023

As Três Ondas da Pandemia de 1918

 

A pandemia da gripe espanhola de 1918 assolou o mundo de tal maneira que cerca de 1/3 da população mundial foi infectada, e os grandes agravos econômicos do período pós-guerra ficaram ainda mais intensificados diante dessa situação. Ela foi dividida em três fases de 1918 até 1919: 1ª onda (março de 1918), 2ª onda (Final de agosto de 1918) e a 3ª onda (Começo de 1919). Devido à primeira guerra mundial e à grande circulação de pessoas entre os continentes foi possível que o vírus da gripe pudesse se espalhar da Europa, o foco da guerra, para as outras regiões.

A primeira onda ocorreu por volta de março de 1918 sem muitas mortes, sendo das três fases a que menos matou e ocasionou prejuízos. A segunda onda foi a mais letal das três, pois a maioria dos infectados e mortos ocorreram nessa fase, sendo que os principais alvos das fatalidades eram jovens e adultos na faixa dos 15 a 30 anos.

Esse grupo, em teoria, apresentaria a maior imunidade, em relação aos grupos de risco que eram esperados, como os idosos. Segundo Short et. al. (2018), as citocinas pró-inflamatórias produzidas em excesso, na resposta imune ao vírus, foram cruciais para o desenvolvimento de condições clínicas agravantes. Esse fenômeno é conhecido como tempestade de citocinas e ocorreu com maior frequência em jovens. Além das mutações que ocorreram e que aumentaram a virulência do vírus (capacidade do vírus causar a doença) durante esse período.

Outra teoria, seria a exposição de indivíduos, na faixa dos 30-60, às variantes H1 ou N1 do vírus influenza, antes de 1889. Acredita-se que isso teria ocasionado a produção de anticorpos que proporcionariam proteção cruzada, isto é, pela similaridade desse vírus com o de 1918, para quem nasceu antes de 1889. Problemas como a má nutrição e a malária foram também causas para a grande quantidade de mortos no período.

A segunda onda da COVID-19, no Brasil, assemelhou-se com a segunda onda da pandemia de 1918, pois houve um número considerável de jovens mortos pelo vírus. Todavia, os tipos de mutações dos coronavírus não ocorrem do mesmo modo e frequência como nos vírus influenza.

Por fim, a terceira onda foi um pouco mais branda que a segunda, mas não deixa de ter sua relevância, pois, ainda assim, teve maior números de mortes que a primeira. O saldo de mortos para essa pandemia foi de 50 milhões, a mais letal da história.

Portanto, é importante salientar que a pandemia de 1918 tem suas próprias características, e não deve ser comparada à pandemia da COVID-19 como equivalente. Essas três ondas são um bom exemplo da progressão de uma pandemia e como ela pode evoluir, caso não seja controlada.


Referência utilizada como base para a escrita do texto:

SHORT, Kirsty R.; KEDZIERSKA, Katherine; VAN DE SANDT, Carolien E. Back to the future: lessons learned from the 1918 influenza pandemic. Frontiers in cellular and infection microbiology, v. 8, p. 343, 2018.

 Doi: 10.3389/fcimb.2018.00343

 

Esse artigo foi originalmente publicado no site do Patologia & Saúde.

 



Texto escrito por: Vitor Guilherme Oliveira Dinizio

Revisão técnica: Diego Moura Tanajura

terça-feira, 6 de junho de 2023

Imunidade de rebanho e a eficácia vacinal

 

Com o surgimento da pandemia pelo novo coronavírus, um termo ganhou destaque entre as pessoas: a imunidade coletiva, também conhecida como imunidade de grupo ou de rebanho. O termo surgiu no início do século passado no campo da veterinária e logo depois passou a ser utilizado na área médica. No entanto, só começou a ganhar força na década de 50 e 60 com o aumento do uso das vacinas e das campanhas de vacinação. De forma simples, a imunidade coletiva acontece quando uma grande parte da população (o “rebanho”) se torna imune à doença infecciosa, dificultando a disseminação desta para as pessoas suscetíveis.

A imunidade à doença pode ser adquirida de duas formas:

I)              através da vacinação em massa, forma mais segura de se alcançar a imunidade coletiva;

II)            através da infecção natural, no qual um número suficiente de pessoas que tiveram a doença e curaram, desenvolvem imunidade protetora. O problema desta última estratégia é que ela possui um alto custo: muitas pessoas adoecem, leva o sistema de saúde ao colapso e milhares de vidas são perdidas!

Desta forma, é consenso entre os especialistas que o melhor caminho para induzir imunidade coletiva seja através da vacinação em massa.

O quanto de uma população precisa ser vacinada para alcançarmos esse “número mágico”?

Depende. Esse número varia de doença para doença e um dos fatores que influencia é a taxa de transmissão do agente infeccioso. O sarampo, por exemplo, possui uma taxa de transmissão média de 13, ou seja, uma pessoa pode transmitir a doença para outras 13. Por conta dessa alta taxa de transmissão, é necessário vacinar pelo menos 95% da população para que os outros 5% não peguem o vírus. Para a pólio, a taxa de transmissão é de seis. Por isso, é preciso vacinar 80% da população alvo.

É importante destacar que eficácia vacinal não é tudo. De nada adianta termos uma vacina com alta eficácia, se a população não for se vacinar. Por exemplo, a vacina contra o sarampo possui 95% de eficácia e foi responsável por eliminar a doença do território brasileiro. No entanto, com o aumento no desinteresse pela vacinação a doença voltou. Por outro lado, a vacina contra o vírus influenza (gripe) possui uma eficácia que varia entre 40 a 60% e é responsável por salvar milhares de vidas pelo Brasil. Isso mostra a importância da população ir se vacinar, independentemente do tipo de vacina e da sua eficácia.

DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31924-3


Caso Clínico IV - COVID-19

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