quinta-feira, 7 de março de 2024

Estudo patrocinado por grupo antivacina prova que não há relação entre vacinas e autismo

 


Primeiramente, vale ressaltar que o TEA (transtorno do espectro autista) é, segundo o Ministério da Saúde, tido como um distúrbio neurocomportamental caracterizado por alterações das funções do neurodesenvolvimento do indivíduo, interferindo na linguagem, na socialização e no comportamento. E que, no ano de 1999, o FDA (Food and Drug Administration) determinou a redução do timerosal em imunizantes, sendo ele um composto que apresenta propriedades bactericidas. Uma vez que, a aplicação de vacinas que o contivessem em crianças de idades iniciais poderia exceder o limite de metilmercúrio estabelecido pelo Environmental Protection Agency’s (EPA), substância presente no conservante utilizado em vacinas de múltiplas doses, ou seja, que vacinam mais de uma pessoa por frasco.

 




Com tal determinação de reduzir o uso do timerosal em imunizantes, inúmeros estudos foram feitos para analisar a associação entre o composto e o TEA. Nessa linha, analisaremos a seguir um estudo patrocinado pela SafeMinds, um grupo antivacinação, que investigou a relação entre administração de vacinas com timerosal em macacos nas idades iniciais (para simular a vacinação em crianças) e o desenvolvimento de TEA ou de neuropatologia. Para a realização desse estudo, foram administrados imunizantes que contivessem o composto nas concentrações anteriores e posteriores a sua redução, e adotados os esquemas vacinais dos anos 1990 e 2008 para crianças. Além disso, foi respeitada a proporção de tempo de vida entre humanos e primatas, para que houvesse uma adequada comparação entre os resultados obtidos e o desenvolvimento humano (importante essa abordagem).

 

Para a obtenção dos resultados, o estudo comparou o desenvolvimento social e comportamental do grupo e, também, a quantidade de células de purkinje no cerebelo dos primatas, alterações no tamanho de seus sistemas límbicos e anormalidades na amígdala e no hipocampo desses animais, uma vez que todas essas alterações estão relacionadas a manifestação do autismo. Como resultado, foi possível perceber que não houve nenhuma alteração em nenhum dos aspectos analisados, tanto nos aspectos físicos, como a densidade das células de purkinje, quanto no aparecimento de qualquer estereótipo comportamental típico do TEA.

 

Além disso, há uma linha de pensamento que afirma a possibilidade do transtorno do espectro autista estar relacionado com a vacinação pré-natal. Em vista disso, nesse mesmo estudo, macacas prenhas, cujos filhos foram designados para o grupo que seria vacinado com o esquema de 2008, receberam uma dose do imunizante para influenza que continha timerosal. Dessa maneira, foi mimetizada a recomendação da vacinação de mulheres grávidas e possibilitada a análise da exposição ao conservante em idade fetal. E mais uma vez, não foi observada nenhuma mudança cognitiva nos primatas. Esse estudo se soma a outros estudos, aumentando a evidência disponível sobre a segurança da vacinação, mesmo em crianças.

 

Assim, apesar do Metilmercúrio quando administrado oralmente está associado a alterações comportamentais em primatas, a administração do composto em vacinas não apresenta nenhum impacto significativo que possa ser possível o associar ao TEA.

 

Comentários do professor:

 

O interessante desse artigo é o que aconteceu nos bastidores. O resultado encontrado no estudo mostrando que as vacinas e seus componentes, principalmente o timerosal, não estão relacionados com o TEA deixou o pessoal antixav insatisfeito. Ora bolas, o estudo foi financiado por eles, mas eles não queriam que o mesmo viesse a público! O grupo antixav que patrocinou o estudo tentou impedir a sua publicação. No entanto, os cientistas responsáveis pelo trabalho foram adiante e publicaram.


Texto escrito por: Hingrid Stephani Rodrigues Ribeiro

Revisão técnica: Diego Moura Tanajura

terça-feira, 5 de março de 2024

O menino da bolha – Parte 2 de 3

 

Este texto é uma mera transcrição de uma trilogia de posts que fizeram muito sucesso no início do @imuno_News lá no Instagram

Veja aqui o post original



 

No nosso último post falamos sobre os dois tipos de imunodeficiências - primária e secundária (caso não tenha lido, pare a leitura e clique aqui). Também falei rapidamente sobre as imunodeficiências combinadas graves (SCID) e as consequências de um paciente com SCID tomar uma vacina atenuada.

 

No post de hoje vamos aprofundar um pouco sobre SCID explicando alguns mecanismos imunológicos.

As imunodeficiências que afetam tanto a imunidade humoral (Células B e produção de anticorpos) quanto a imunidade mediada por células (como as células T CD4 e CD8, por exemplo) são conhecidas como imunodeficiências combinadas graves (SCID).

Na SCID ocorre um distúrbio no desenvolvimento e função das células T (imunidade celular), células B (imunidade humoral), podendo até afetar as células NK (imunidade inata).

Calma aí, então o paciente pode apresentar deficiência tanto na imunidade inata quanto na adaptativa?

Isso mesmo!! Foi por isso que no último post eu disse que pessoas com SCID NÃO podem tomar vacinas atenuadas. E isso explica as infecções recorrentes que esses pacientes desenvolvem, inclusive infecções oportunistas.

Ah, um ponto importante - alguns pacientes com SCID podem apresentar comprometimento dos linfócitos T e linfócitos B NORMAIS.

Então esses pacientes conseguiriam produzir imunoglobulinas (anticorpos)?

Mais ou menos... Vou explicar melhor...

Mesmo com as células B normais, esses pacientes apresentam uma baixa produção de anticorpos por conta de um detalhe:

Tome nota que isso é importante!

As células B precisam da ajuda das células T para produzirem anticorpos. Por isso, mesmo que alguns pacientes apresentem células B saudáveis, elas não terão muita "utilidade" pela ausência ou defeito nas células T. Veja um pouco sobre o assunto aqui.

Se esses pacientes apresentam falhas tão graves na imunidade, eles morrem logo após o nascimento?

Nem sempre... Por conta da imunidade passiva (anticorpos recebidos da mãe), essas crianças conseguem ficar imunes às infecções por alguns meses...

Existe cura para algo tão grave?

Sim, hoje existe cura. O tratamento mais comum é o transplante de medula óssea.

 

Referências

ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew HH; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. Elsevier Brasil, 2019;

HEIMALL, Jennifer.; PUCK, Jennifer; TEPAS, Elizabeth. Severe combined immunodeficiency (SCID): An overview. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate, 2019.

Autismo e vacinas - coletânea de textos

 

Foi no ano de 1998, que o médico Andrew Wakefield publicou um estudo falso relacionando imunização contra o Sarampo, a Caxumba e a Rubéola por meio da vacina Tríplice Viral com o transtorno do espectro autisma (TEA). De lá para cá, incontáveis vezes, a vacinação tem sido alvo de críticas e de desconfianças a respeito dessa e de outras informações equivocadas. Dessa maneira, torna-se cabível esclarecer à população a respeito dessas associações errôneas com a vacinação, e por isso, através de uma série de postagens iremos analisar artigos científicos com a finalidade de trazer informações seguras e com maiores evidências científicas no assunto.


1) Como surgiu o mito da ligação entre vacinas e autismo;

2) Vídeo vacinas e autismo;

3) Estudo patrocinado por grupo antivacina prova que não há relação entre vacinas e autismo.


Obs.: Os materiais estão em produção e serão acrescentados aos poucos.

______________________________________________________

Texto escrito por: Hingrid Stephani Rodrigues Ribeiro

Revisão técnica: Diego Moura Tanajura

Caso Clínico IV - COVID-19

  Senhor José, com 70 anos e diabético, deu entrada no PS do HU de Lagarto com um quadro de dispneia, febre, tosse e dores pelo corpo. Além ...

Postagens mais visitadas