segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

O que sabemos sobre a variante Ômicron do SARS-CoV-2

Neste artigo discutimos:

Período de incubação: Delta x Ômicron;

Carga Viral: Delta x Ômicron;

Duração da infecção: Delta x Ômicron;

Sobrevivência da Ômicron e outras variantes em plástico e pele humana;

Eliminação do vírus em não vacinados;

Gravidade da COVID-19 pela Ômicron;

Por que vacinados podem se infectar?

Importância da 3ª dose (dose de reforço). 


Quase um ano depois do surgimento da variante Delta, o mundo vê a chegada de mais uma nova variante do SARS-CoV-2, a Ômicron. Essa variante surgiu em novembro de 2021, na África do Sul, e pouco tempo depois se espalhou pelo mundo. Ela já foi detectada em mais de 145 países e é responsável pelo aumento do número de casos em pessoas vacinadas ou não e, também, pelo aumento no número de mortes, principalmente, em pessoas não vacinadas. No entanto, pelos dados epidemiológicos, já fica claro que a variante Ômicron possui uma menor letalidade, pois o aumento exponencial de casos não foi acompanhado pelo aumento no número de mortes, como já visto nas outras ondas da pandemia causadas por outras variantes. Apesar da menor letalidade, a Ômicron vem causando estragos, principalmente em países com baixas taxas de vacinação e baixa aceitação da dose de reforço.

Em menos de dois meses da chegada da variante Ômicron, a comunidade científica conseguiu, em tempo recorde, descobrir muitas características dessa nova variante e os estudos ainda continuam.


Primeiramente, vamos abordar sobre o período de incubação desta variante.

O período de incubação é o tempo durante a exposição ao vírus até o surgimento dos primeiros sintomas. A versão original do SARS-CoV-2, que saiu de Wuhan, possuía um período de incubação de 5 dias, em média. Na variante Delta, esse tempo caiu para 4 dias e na Ômicron para somente 3 dias. Então, após entrar em contato com um infectado, em média 3 dias depois, a pessoa começa a desenvolver os primeiros sintomas.


E a carga viral no infectado?

A carga viral é a quantidade de vírus no corpo de uma pessoa infectada. No geral, a taxa de transmissão é maior quando a carga viral está mais alta.

Estudo preliminar  mostrou que pessoas infectadas com a variante Delta apresentam um pico de carga viral por volta do 5º dia após a infecção, ou seja, esse é o tempo que o vírus leva para proliferar e chegar a carga máxima dentro do corpo da pessoa infectada. Depois de chegar ao pico de carga viral, o sistema imune começa a controlar e a eliminar o vírus do corpo. O tempo que isso leva varia de variante para variante. Para a variante Delta, após o pico viral, o sistema imune leva, em média, 6 dias para eliminar o vírus. Somando o tempo de proliferação do vírus (5 dias) mais o tempo de eliminação (6 dias), temos a duração da infecção que é de 11 dias para essa variante.

No caso da Ômicron, o tempo para chegar no pico de carga viral é similar e ele ocorre por volta do 5º dia de infecção. No entanto, a eliminação do vírus acontece de forma mais rápida; um dia antes da variante Delta. Desta forma, o tempo de infecção com a Ômicron é de 10 dias (5 dias de proliferação viral + 5 dias de eliminação). Outro resultado interessante é a carga viral nas pessoas infectadas com essas duas variantes. As pessoas infectadas com a variante Ômicron apresentaram carga viral menor do que as infectadas com a Delta (ver figura).

  


Aí vocês devem estar se perguntando: se a carga viral nas pessoas infectadas com a Ômicron é menor, como temos tantos casos pelo mundo pela variante?

Provavelmente isso ocorre por conta da grande quantidade de mutações que a Ômicron apresenta na proteína Spike (mais de 30 mutações somente nessa proteína), que mesmo apresentando menor carga viral, o vírus consegue facilmente se propagar para as outras pessoas, além de conseguir escapar do nosso sistema de defesa.

Outro ponto que deve ser levado em consideração foi o achado de um estudo japonês que mostrou um maior tempo de sobrevivência da variante Ômicron no plástico e na pele, comparado com as outras variantes. No plástico a variante Ômicron permanece infectiva por 194 horas, cerca de 8 dias, e na pele por 21 horas.  Essa maior estabilidade da variante pode contribuir para sua transmissão. A boa notícia é que cuidados básicos como a lavagem das mãos e o uso do álcool gel continuam efetivos como medidas profiláticas.

O diferencial desse estudo, comparado com outros, é que os pesquisadores fizeram o isolamento do vírus das superfícies e avaliaram a capacidade infectiva destes em células de cultura. No início da pandemia, os primeiros trabalhos só faziam PCR para detectar a presença ou não de material genético do vírus nas superfícies. Detectar material genético não significa que o vírus está viável.

O estudo citado acima destaca que a maior estabilidade da nova variante pode contribuir para uma maior transmissão. Mas qual a relevância da transmissão por fômites do SARS-CoV-2? O que os estudos mostram sobre isso?

A mais importante via de transmissão do SARS-CoV-2 é pelo contato com gotículas respiratórias de infectados. O risco de infecção por fômites, como plástico, é considerado baixo quando comparado com essa outra forma de transmissão. Segundo o órgão americano CDC, o risco de contaminação via fômites é de 1 a cada 10.000 vezes que se toca uma superfície contaminada. Apesar do risco ser baixo, ele não deve ser ignorado, ainda mais num momento de alta circulação viral. No entanto, não estou alarmando dizendo que é necessário ficarmos neuróticos e passar álcool em todos os produtos do supermercado; mas que devemos continuar atentos à lavagem das mãos com água e sabão.

 

Total de horas que cada variante consegue sobreviver no plástico:

Vírus original de Wuhan – 56 h

Variante Gama – 59,3 h

Variante Delta – 114 h

Variante Beta – 156,6 h

Variante Alfa – 191,3 h

Variante Ômicron – 193,5 h

 

Total de horas que cada variante consegue sobreviver na pele:

Vírus original de Wuhan – 8,6 h

Variante Gama – 11 h

Variante Delta – 16,8 h

Variante Beta – 19,1 h

Variante Alfa – 19,6 h

Variante Ômicron – 21,1 h

 

Recapitulando, os dados demonstraram que pessoas infectadas pela variante Ômicron apresentaram menor duração de infecção e menor carga viral. A possível explicação para esses resultados é o maior número de pessoas com imunidade previa ao vírus, por conta da maior taxa de vacinação, aplicação da dose de reforço e de pessoas recuperadas da doença do que no período de circulação da Delta.


E como fica a eliminação do vírus em pessoas não vacinadas?

Um estudo publicado na revista The New England Journal of Medicine mostrou que os não vacinados demoram dois dias a mais para eliminar o vírus do seu corpo.

Ponto para a vacina. Menos dias com o vírus circulando no corpo é menos transmissão!


E a gravidade da COVID-19 pela nova variante?

Estudos desenvolvidos nos Estados Unidos, África do Sul e Escócia, assim como estudos em modelos animais apontam que a variante Ômicron causa doença menos grave do que a variante Delta.

Além disso, pessoas infectadas com a Ômicron têm menor risco de hospitalização, menor risco de parar numa UTI e de necessitar de ventilação mecânica. E quando vão parar no hospital o tempo de hospitalização é 70% menor comparado com as pessoas infectadas pela Delta.

Uma possível explicação para a menor gravidade da variante é que o dano pulmonar é menor. A variante Ômicron possui maior afinidade pelo trato respiratório superior do que o inferior; mas é importante destacar que nos hospitais a porcentagem de internação é maior em pessoas não vacinadas ou com o ciclo incompleto de vacinação.  


Por que as pessoas vacinadas estão se infectando?

Primeiramente é importante lembrar que as vacinas foram desenhadas para evitar casos graves e mortes pela COVID-19, e isso elas têm feito muito bem. Apesar da explosão de casos mundo a fora, a taxa de óbito não se elevou tanto como nas outras ondas. Outro ponto é que a nova variante consegue evadir dos anticorpos gerados pela vacina, ocorrendo assim a infecção em vacinados, mas evitando complicações. O reforço com a 3ª dose apresenta uma efetividade de 90% contra hospitalização pela Ômicron. No entanto, vacinados que tomaram a 2ª dose há mais de 6 meses e não voltaram para tomar a 3ª dose (dose de reforço), a efetividade da vacina cai para 57% contra a Ômicron.  

Diante do discutido acima, reforço que apesar da nova variante aparentar ser menos grave do que as outras, alguns pacientes, principalmente aqueles que não se vacinaram, não completaram o esquema vacinal, não tomaram a dose de reforço (3ª dose) ou possuem deficiência no sistema imunológico, podem desenvolver doença grave quando infectados com a Ômicron.

 


Texto por Diego M. Tanajura 

Um comentário:

  1. Parabéns pelo excelente conteúdo!!!
    Gostaria de saber se existe relação entre o período de transmissão e eliminação do vírus com a quantidade e intensidade dos sintomas dessa variante.

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