Neste artigo discutimos:
Período de incubação: Delta x Ômicron;
Carga Viral: Delta x Ômicron;
Duração da infecção: Delta x Ômicron;
Sobrevivência da Ômicron e outras variantes em plástico e
pele humana;
Eliminação do vírus em não vacinados;
Gravidade da COVID-19 pela Ômicron;
Por que vacinados podem se infectar?
Quase
um ano depois do surgimento da variante Delta, o mundo vê a chegada de mais uma
nova variante do SARS-CoV-2, a Ômicron. Essa variante surgiu em novembro de 2021,
na África do Sul, e pouco tempo depois se espalhou pelo mundo. Ela
já foi detectada em mais de 145 países e é responsável pelo aumento do número
de casos em pessoas vacinadas ou não e, também, pelo aumento no número de
mortes, principalmente, em pessoas não vacinadas. No entanto, pelos dados
epidemiológicos, já fica claro que a variante Ômicron possui uma menor
letalidade, pois o aumento exponencial de casos não foi acompanhado pelo
aumento no número de mortes, como já visto nas outras ondas da pandemia
causadas por outras variantes. Apesar da menor letalidade, a Ômicron vem
causando estragos, principalmente em países com baixas taxas de vacinação e
baixa aceitação da dose de reforço.
Em
menos de dois meses da chegada da variante Ômicron, a comunidade científica
conseguiu, em tempo recorde, descobrir muitas características dessa nova
variante e os estudos ainda continuam.
Primeiramente,
vamos abordar sobre o período de incubação desta variante.
O
período de incubação é o tempo durante a exposição ao vírus até o surgimento
dos primeiros sintomas. A versão original do SARS-CoV-2, que saiu de Wuhan, possuía
um período de incubação de 5 dias, em média. Na
variante Delta, esse tempo caiu para 4 dias e na
Ômicron para somente 3 dias.
Então, após entrar em contato com um infectado, em média 3 dias depois, a
pessoa começa a desenvolver os primeiros sintomas.
E a
carga viral no infectado?
A
carga viral é a quantidade de vírus no corpo de uma pessoa infectada. No geral,
a taxa de transmissão é maior quando a carga viral está mais alta.
Estudo
preliminar
mostrou que pessoas infectadas com a variante Delta apresentam um pico de carga
viral por volta do 5º dia após a infecção, ou seja, esse é o tempo que o vírus
leva para proliferar e chegar a carga máxima dentro do corpo da pessoa
infectada. Depois de chegar ao pico de carga viral, o sistema imune começa a
controlar e a eliminar o vírus do corpo. O tempo que isso leva varia de
variante para variante. Para a variante Delta, após o pico viral, o sistema
imune leva, em média, 6 dias para eliminar o vírus. Somando o tempo de
proliferação do vírus (5 dias) mais o tempo de eliminação (6 dias), temos a
duração da infecção que é de 11 dias para essa variante.
No
caso da Ômicron, o tempo para chegar no pico de carga viral é similar e ele
ocorre por volta do 5º dia de infecção. No
entanto, a eliminação do vírus acontece de forma mais rápida; um dia antes da
variante Delta. Desta forma, o tempo de infecção com a Ômicron é de 10 dias (5
dias de proliferação viral + 5 dias de eliminação). Outro resultado
interessante é a carga viral nas pessoas infectadas com essas duas variantes. As
pessoas infectadas com a variante Ômicron apresentaram carga viral menor do que
as infectadas com a Delta (ver figura).
Aí vocês devem estar se perguntando: se a carga viral nas pessoas infectadas com a Ômicron é menor, como temos tantos casos pelo mundo pela variante?
Provavelmente
isso ocorre por conta da grande quantidade de mutações que a Ômicron apresenta
na proteína Spike (mais de 30 mutações somente nessa proteína), que
mesmo apresentando menor carga viral, o vírus consegue facilmente se propagar
para as outras pessoas, além de conseguir escapar do nosso sistema de defesa.
Outro
ponto que deve ser levado em consideração foi o achado de um estudo japonês que mostrou um maior tempo de sobrevivência da variante Ômicron no plástico e
na pele, comparado com as outras variantes. No plástico a variante Ômicron
permanece infectiva por 194 horas, cerca de 8 dias, e na pele por 21
horas. Essa maior estabilidade da
variante pode contribuir para sua transmissão. A boa notícia é que cuidados
básicos como a lavagem das mãos e o uso do álcool gel continuam efetivos como
medidas profiláticas.
O
diferencial desse estudo, comparado com outros, é que os pesquisadores fizeram
o isolamento do vírus das superfícies e avaliaram a capacidade infectiva destes
em células de cultura. No início da pandemia, os primeiros trabalhos só faziam
PCR para detectar a presença ou não de material genético do vírus nas
superfícies. Detectar material genético não significa que o vírus está viável.
O
estudo citado acima destaca que a maior estabilidade da nova variante pode
contribuir para uma maior transmissão. Mas qual a relevância da transmissão por
fômites do SARS-CoV-2? O que os estudos mostram sobre isso?
A mais
importante via de transmissão do SARS-CoV-2 é pelo contato com gotículas respiratórias
de infectados.
O risco de infecção por fômites, como plástico, é considerado baixo quando
comparado com essa outra forma de transmissão. Segundo o órgão americano CDC, o
risco de contaminação via fômites é de 1 a cada 10.000 vezes que se toca uma superfície contaminada.
Apesar do risco ser baixo, ele não deve ser ignorado, ainda mais num momento de
alta circulação viral. No entanto, não estou alarmando dizendo que é necessário
ficarmos neuróticos e passar álcool em todos os produtos do supermercado; mas
que devemos continuar atentos à lavagem das mãos com água e sabão.
Total
de horas que cada variante consegue sobreviver no plástico:
Vírus
original de Wuhan – 56 h
Variante
Gama – 59,3 h
Variante
Delta – 114 h
Variante
Beta – 156,6 h
Variante
Alfa – 191,3 h
Variante
Ômicron – 193,5 h
Total
de horas que cada variante consegue sobreviver na pele:
Vírus
original de Wuhan – 8,6 h
Variante
Gama – 11 h
Variante
Delta – 16,8 h
Variante
Beta – 19,1 h
Variante
Alfa – 19,6 h
Variante
Ômicron – 21,1 h
Recapitulando,
os dados demonstraram que pessoas infectadas pela variante Ômicron apresentaram
menor duração de infecção e menor carga viral. A possível
explicação para esses resultados é o maior número de pessoas com imunidade
previa ao vírus, por conta da maior taxa de vacinação, aplicação da dose de
reforço e de pessoas recuperadas da doença do que no período de circulação da
Delta.
E como
fica a eliminação do vírus em pessoas não vacinadas?
Um
estudo publicado na revista The New England Journal of Medicine mostrou que os não vacinados demoram dois
dias a mais para eliminar o vírus do seu corpo.
Ponto
para a vacina. Menos dias com o vírus circulando no corpo é menos transmissão!
E a
gravidade da COVID-19 pela nova variante?
Estudos
desenvolvidos nos Estados Unidos, África do Sul e Escócia, assim como estudos em modelos animais apontam que a variante Ômicron causa
doença menos grave do que a variante Delta.
Além
disso, pessoas infectadas com a Ômicron têm menor risco de hospitalização, menor
risco de parar numa UTI e de necessitar de ventilação mecânica. E quando vão
parar no hospital o tempo de hospitalização é 70% menor comparado com as
pessoas infectadas pela Delta.
Uma
possível explicação para a menor gravidade da variante é que o dano pulmonar é
menor. A variante Ômicron possui maior afinidade pelo trato respiratório
superior do que o inferior; mas é importante destacar que nos
hospitais a porcentagem de internação é maior em pessoas não vacinadas ou com o
ciclo incompleto de vacinação.
Por
que as pessoas vacinadas estão se infectando?
Primeiramente
é importante lembrar que as vacinas foram desenhadas para evitar casos graves e
mortes pela COVID-19, e isso elas têm feito muito bem. Apesar da explosão de
casos mundo a fora, a taxa de óbito não se elevou tanto como nas outras ondas.
Outro ponto é que a nova variante consegue evadir dos anticorpos gerados pela
vacina, ocorrendo assim a infecção em vacinados, mas evitando complicações. O
reforço com a 3ª dose apresenta uma efetividade de 90% contra hospitalização
pela Ômicron. No entanto, vacinados que
tomaram a 2ª dose há mais de 6 meses e não voltaram para tomar a 3ª dose (dose
de reforço), a efetividade da vacina cai para 57% contra a Ômicron.
Diante
do discutido acima, reforço que apesar da nova variante aparentar ser menos
grave do que as outras, alguns pacientes, principalmente aqueles que não se
vacinaram, não completaram o esquema vacinal, não tomaram a dose
de reforço (3ª dose) ou possuem deficiência no sistema imunológico,
podem desenvolver doença grave quando infectados com a Ômicron.
Parabéns pelo excelente conteúdo!!!
ResponderExcluirGostaria de saber se existe relação entre o período de transmissão e eliminação do vírus com a quantidade e intensidade dos sintomas dessa variante.