sexta-feira, 31 de março de 2023

Caso clínico 2. SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS)

 

T.F.S, de 42 anos, deu entrada no serviço de emergência queixando-se de perda de peso não intencional de 4,5 kg (94,5 para 90 kg) há aproximadamente 6 meses, e relatando um quadro de sudorese noturna intensa e tosse seca com falta de ar progressiva há 4 semanas.

 

O paciente é natural de Lagarto-SE, solteiro, não tem filhos, trabalha como vendedor. Negou comorbidades prévias, negou uso contínuo de medicamentos. Negou febre, assim como negou outras infecções anteriores, linfonodomegalias, lesões cutâneas, alterações gastrointestinais, urinárias ou neurológicas. Negou contato com pessoas com diagnóstico recente de tuberculose. Negou tabagismo ou uso de drogas injetáveis, referindo apenas consumir moderada quantidade de cerveja aos finais de semana. Durante o atendimento, relatou ser bissexual e ter mantido relações sexuais desprotegidas com parceiros diferentes há 10 anos. Atualmente, não tem parceira(o) e está sem vida sexual ativa há 3 anos. Sobre os antecedentes familiares, sua mãe faleceu aos 84 anos devido a problemas cardíacos, enquanto seu pai morreu aos 87 anos por cirrose hepática de causa desconhecida. Não possui irmãos.

 

Ao exame físico: PA = 110 x 70 mmHg, FC = 100 bpm, Tax (temperatura axilar) = 36,5 ºC (normal), Saturação= 89% em ar ambiente, FR= 40 ipm. Uso de musculatura acessória. Ausculta respiratória demonstrava crepitações em terço médio e inferior de ambos hemitórax. Sem alterações nos demais aparelhos. Paciente não apresentava linfonodomegalias palpáveis.

 

Foram solicitados exames laboratoriais, sorologias, gasometria arterial e radiografia de tórax.

 

*****Hemograma:

Leucócitos de 5800/mm3 (VR: 3600 a 11000); Segmentados 4658 (VR:1480 a 7700); Eosinófilos 207 (VR: 0-550); Linfócitos 255 (VR: 740-5500); Monócitos 680 (VR: 37-1110).

 

Hemoglobina 11.4 g/dL (VR Homens: 13-16,5 g/dL); Hematócrito de 33,2% (VR: 36 a 54%);

 

Plaquetas de 278.000/mm3 (VR: 150.000 a 450.000);

 

Após a realização de exames gerais, o hemograma demostrou linfopenia relativa importante (contagem total de leucócitos normal, porém com baixa contagem de linfócitos no sangue periférico). O sangue coletado também foi enviado para a realização de testes sorológicos visando investigar a presença de anticorpos para o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Ambos os testes (ELISA e Western Blot) revelaram a presença de anticorpos anti-HIV. A radiografia de tórax demonstrou infiltrado difuso em ambos os pulmões. Gasometria arterial demonstrava hipoxemia. Demais exames de bioquímica sem alterações.

 

 

Foi realizada a comunicação do diagnostico de HIV conforme protocolo de más notícias ao paciente, e optada pela internação hospitalar para tratamento de pneumonia.

 

O paciente recebeu antibioticoterapia endovenosa para cobertura de pneumonia bacteriana da comunidade, bem como recebeu antibioticoterapia com intuito de cobrir uma provável infecção oportunista - pneumonia por Pneumocystis jirovecii. com sulfametoxazol + trimetoprima. Recebeu oxigenioterapia por cateter nasal e fisioterapia respiratória. Além disso, recebeu tratamento com corticoterapia.

 

Durante a internação hospitalar, foi solicitada avaliação da Infectologia, que pediu a contagem de Carga Viral e de Células CD4. A contagem muito baixa de células TCD4, cerca de 170 cél/mm3 (VR: 500 a 1.500); e sua carga viral RNA HIV-1 de 67.000 cópias/mL, confirmaram o diagnóstico de SIDA. Após compensação do quadro infeccioso, o paciente evoluiu com melhora dos sintomas respiratórios, e foi iniciado esquema terapêutico antirretroviral, assim como orientações gerais para alta hospitalar.

 

No primeiro seguimento ambulatorial, após 5 semanas da alta hospitalar, seus exames mostravam redução da Carga Viral para 400 cópias/mL. Após 8 semanas, apresentou < 50 cópias/mL (níveis indetectáveis) enquanto sua contagem de células TCD4 subiu para 416 cél/mm3.


Obs.: Aqui no Blog não pretendemos discutir pontos do caso clínico que vão além da imunologia.



Caso Clínico escrito por José Douglas dos Santos e Tauanny Aragão de Moura

 

Revisão técnica: Tauanny Aragão de Moura e Diego Moura Tanajura


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Perguntas:

 

1)    Em geral, o curso da infecção pelo HIV em adultos é diferente daquele em bebês infectados, por exemplo, na gestação ou parto. Cite essa diferença, explicando o porquê.

 

2)    Quais são os mecanismos de resistência imunológica à progressão da infecção pelo HIV?

 

3)    Qual é o principal fator indicativo de progressão da infecção pelo HIV? Qual a diferença entre HIV e SIDA (AIDS)?

 

4)    O que explica a diminuição de células TCD4 na infecção pelo HIV?

 

5)    O que são as doenças oportunistas citadas no caso? Isto possui relação com a pergunta anterior? Explique.

 

6)    Qual citocina liberada durante a infecção pelo HIV pode explicar a perda de peso de T.F.S?


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