T.F.S, de 42 anos, deu entrada no serviço
de emergência queixando-se de perda de peso não intencional de 4,5 kg (94,5
para 90 kg) há aproximadamente 6 meses, e relatando um quadro de sudorese
noturna intensa e tosse seca com falta de ar progressiva há 4 semanas.
O paciente é natural de Lagarto-SE, solteiro,
não tem filhos, trabalha como vendedor. Negou comorbidades prévias, negou uso contínuo
de medicamentos. Negou febre, assim como negou outras infecções anteriores, linfonodomegalias,
lesões cutâneas, alterações gastrointestinais, urinárias ou neurológicas. Negou
contato com pessoas com diagnóstico recente de tuberculose. Negou tabagismo ou
uso de drogas injetáveis, referindo apenas consumir moderada quantidade de
cerveja aos finais de semana. Durante o atendimento, relatou ser bissexual e ter
mantido relações sexuais desprotegidas com parceiros diferentes há 10 anos.
Atualmente, não tem parceira(o) e está sem vida sexual ativa há 3 anos. Sobre
os antecedentes familiares, sua mãe faleceu aos 84 anos devido a problemas cardíacos,
enquanto seu pai morreu aos 87 anos por cirrose hepática de causa desconhecida.
Não possui irmãos.
Ao exame físico: PA = 110 x 70 mmHg, FC =
100 bpm, Tax (temperatura axilar) = 36,5 ºC (normal), Saturação= 89% em ar
ambiente, FR= 40 ipm. Uso de musculatura acessória. Ausculta respiratória
demonstrava crepitações em terço médio e inferior de ambos hemitórax. Sem
alterações nos demais aparelhos. Paciente não apresentava linfonodomegalias palpáveis.
Foram solicitados exames laboratoriais,
sorologias, gasometria arterial e radiografia de tórax.
*****Hemograma:
Leucócitos de 5800/mm3 (VR:
3600 a 11000); Segmentados 4658 (VR:1480 a 7700); Eosinófilos 207 (VR: 0-550); Linfócitos
255 (VR: 740-5500); Monócitos 680 (VR: 37-1110).
Hemoglobina 11.4 g/dL (VR Homens: 13-16,5
g/dL); Hematócrito de 33,2% (VR: 36 a 54%);
Plaquetas de 278.000/mm3 (VR:
150.000 a 450.000);
Após a realização de exames gerais, o
hemograma demostrou linfopenia relativa importante (contagem total de leucócitos
normal, porém com baixa contagem de linfócitos no sangue periférico). O sangue
coletado também foi enviado para a realização de testes sorológicos visando
investigar a presença de anticorpos para o Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV). Ambos os testes (ELISA e Western Blot) revelaram a presença de
anticorpos anti-HIV. A radiografia de tórax demonstrou infiltrado difuso em
ambos os pulmões. Gasometria arterial demonstrava hipoxemia. Demais exames de
bioquímica sem alterações.
Foi realizada a comunicação do diagnostico
de HIV conforme protocolo de más notícias ao paciente, e optada pela internação
hospitalar para tratamento de pneumonia.
O paciente recebeu antibioticoterapia
endovenosa para cobertura de pneumonia bacteriana da comunidade, bem como
recebeu antibioticoterapia com intuito de cobrir uma provável infecção
oportunista - pneumonia por Pneumocystis jirovecii. com sulfametoxazol +
trimetoprima. Recebeu oxigenioterapia por cateter nasal e fisioterapia
respiratória. Além disso, recebeu tratamento com corticoterapia.
Durante a internação hospitalar, foi
solicitada avaliação da Infectologia, que pediu a contagem de Carga Viral e de Células
CD4. A contagem muito baixa de células TCD4, cerca de 170 cél/mm3
(VR: 500 a 1.500); e sua carga viral RNA HIV-1 de 67.000 cópias/mL, confirmaram
o diagnóstico de SIDA. Após compensação do quadro infeccioso, o paciente
evoluiu com melhora dos sintomas respiratórios, e foi iniciado esquema
terapêutico antirretroviral, assim como orientações gerais para alta
hospitalar.
No primeiro seguimento ambulatorial, após
5 semanas da alta hospitalar, seus exames mostravam redução da Carga Viral para
400 cópias/mL. Após 8 semanas, apresentou < 50 cópias/mL (níveis
indetectáveis) enquanto sua contagem de células TCD4 subiu para 416 cél/mm3.
Obs.: Aqui no Blog não pretendemos discutir pontos do caso clínico que vão além da imunologia.
Caso
Clínico escrito por José Douglas dos Santos e Tauanny Aragão de Moura
Revisão
técnica: Tauanny Aragão de Moura e Diego Moura Tanajura
___________________________________________________________
Perguntas:
1)
Em
geral, o curso da infecção pelo HIV em adultos é diferente daquele em bebês
infectados, por exemplo, na gestação ou parto. Cite essa diferença, explicando
o porquê.
2)
Quais
são os mecanismos de resistência imunológica à progressão da infecção pelo HIV?
3)
Qual
é o principal fator indicativo de progressão da infecção pelo HIV? Qual a
diferença entre HIV e SIDA (AIDS)?
4)
O
que explica a diminuição de células TCD4 na infecção pelo HIV?
5)
O
que são as doenças oportunistas citadas no caso? Isto possui relação com a
pergunta anterior? Explique.
6)
Qual
citocina liberada durante a infecção pelo HIV pode explicar a perda de peso de T.F.S?