terça-feira, 25 de outubro de 2022

Imunidade ativa x imunidade passiva

 Neste artigo discutimos:

Imunidade Ativa

Imunidade Passiva

Soro anti-COVID-19

Imunidade passiva de forma fisiológica

Qual o tipo de imunidade é a melhor?

Instituto Butantan e a produção de soro


Quando dizemos que estamos “imune” a alguma coisa, queremos dizer que ela não nos afeta. Em um jogo de tabuleiro, por exemplo, ter imunidade significa que você não sofrerá nenhuma consequência caso caia em uma casa com alguma penalidade. Da mesma forma, podemos entender a imunidade do nosso corpo como um mecanismo cujo objetivo é nos proteger da invasão de microrganismos infecciosos.

Mas será que esse processo de defesa acontece sempre da mesma forma?

E se já temos esse complexo sistema imune no nosso organismo, qual o papel das vacinas e dos soros?

Entendido como ocorrem as respostas inata e adaptativa do sistema imune, podemos classificar o tipo de imunidade como sendo ativa ou passiva e responder a essas perguntas.

 Imunidade ativa

A imunidade ativa se refere àquela desenvolvida a partir do estímulo de um antígeno, ou seja, as células do sistema imune reconhecem o antígeno e desencadeiam uma resposta, que pode ser humoral (anticorpos) ou mediada por células. Essa resposta desenvolvida é específica para o antígeno, com o objetivo de combatê-lo e criar uma memória imunológica, pois caso o organismo entre em contato com esse invasor novamente, a resposta imune será mais rápida e mais forte.

Nesse sentido, podemos dizer que a imunização ativa é um processo de indução de memória imunológica para determinado antígeno. Essa é a lógica das vacinas: expor o indivíduo ao antígeno do microrganismo causador da doença, a fim de estimular o sistema imune a gerar uma resposta, primeiramente branda, e formar a memória imunológica. Assim, caso o indivíduo venha a ser infectado por esse patógeno, o antígeno será reconhecido e a resposta imune será mais eficiente (Figura 1).


Figura 1: Especificidade, memória e contração das respostas imunes adaptativas. ABBAS (2019).


Imunidade passiva

Por sua vez, a imunidade passiva não requer o processo de reconhecimento do antígeno e produção de anticorpos ou ativação dos linfócitos T. Essa imunidade já “vem pronta” e, assim, tem uma ação mais imediata. Entretanto, a imunidade passiva não é capaz de criar memória imunológica, justamente por não ter passado pelas etapas citadas acima (Figura 2).

Um exemplo atual do uso da imunidade passiva está no soro anti-COVID-19. Este soro é produzido a partir de plasma de cavalos que foram imunizados contra o SARS-CoV-2. O soro do cavalo é utilizado para tratar pacientes. Outra opção foi a obtenção do soro de pacientes curados da COVID-19. Ah, no soro estão presentes os anticorpos contra o vírus.

A imunidade passiva também ocorre de forma fisiológica, quando anticorpos maternos são transferidos através da placenta para o feto. Isso é muito importante para proteger os recém-nascidos das infecções, até eles estarem aptos a produzir anticorpos. Comentamos sobre isso na 1ª questão da resolução do caso clínico na Doença de Bruton – Agamaglobulinemia.   



Figura 2: Imunidade ativa e passiva. ABBAS (2019).


Qual tipo de imunidade é melhor?

Como tudo na ciência, a resposta é: depende.
Cada tipo de imunidade tem sua aplicabilidade, a depender do que se pretende combater. Para uma doença infecciosa, por exemplo, utilizamos as vacinas como uma forma de induzir a resposta ativa, já que o indivíduo ainda não foi exposto ao patógeno. Então, se ele for exposto posteriormente, a sua resposta será mais rápida e mais forte do que se ele não tivesse essa memória de como combater esse microrganismo, evitando o desenvolvimento da doença que ele causa.
Outro caso, bem diferente, é a picada de animais peçonhentos. Aqui temos uma pessoa que já foi exposta ao antígeno e precisa de uma resposta rápida para neutralizar o veneno. Agora, a melhor imunidade é a passiva, na qual serão introduzidos os anticorpos prontos para neutralizar a toxina.

 

Produção de soros no Brasil

No Brasil, o Instituto Butantan  é o responsável pelos soros contra toxinas e microrganismos que temos disponíveis no SUS. Uma das técnicas que o Butantan utiliza para a produção do soro é feita a partir da inoculação de um antígeno da toxina ou microrganismo em cavalos. Primeiramente, é necessário a extração da peçonha ou toxina, que será processada e diluída para ser injetada no cavalo. Em seguida, após esperar o tempo necessário para a produção de anticorpos, é coletado o sangue do animal com o intuito de obter os anticorpos presentes no plasma sanguíneo. Esse plasma será concentrado e purificado para, enfim, compor o soro.

Alguns exemplos de soros produzidos pelo Butantan:





Para saber sobre outros tipos de soros produzidos pelo Instituto Butantan clique aqui.


Texto: Nathalia de Azevedo Souza

Revisão técnica: Diego Moura Tanajura 

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