O caso clínico abaixo oferece uma
oportunidade para discutir a microbiologia e a resposta imunológica frente à
infecção/vacinação. É essencial que o aluno(a) compreenda não apenas os
aspectos patológicos, mas também as implicações sociais e comportamentais que
afetam a saúde da população.
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Marina, bebê de 3 semanas de
idade, é levada ao PS da pediatria por seus pais. Nos últimos 5 dias a bebê
apresentou febre e tosse, mas agora apresenta uma tosse tão grave que está
vomitando.
Gael, 7 anos, irmão de Marina,
também está doente. Ele apresenta coriza e tosse branda. Os pais das crianças
não acreditavam que a doença de Marina fosse grave até ela começar a vomitar. O
Dr. Marcos, médico residente em pediatria, admitiu a bebê no hospital para
testes e observações. Ela é hospitalizada por 5 dias.
O Dr. Marcos examina Marina
durante os dias de internação no hospital. Em nenhum momento ele utiliza
máscara para proteção facial.
Resultados dos exames de
Marina:
O exame de sangue mostrou a
presença de leucocitose e linfocitose absoluta.
O swab da garganta foi
positivo para o DNA da bactéria Bordetella pertussis.
Diante do diagnóstico positivo
para coqueluche, a equipe de saúde entrou com a antibioticoterapia em Marina e
solicitou a cultura da garganta dos pais e do irmão Gael. Os resultados da
cultura foram negativos nos pais e positivo para B. pertussis em Gael.
Como se observa frequentemente em
crianças maiores e adultos, os sintomas de Gael são mais brandos do que os de
sua irmã; recém-nascidos que contraem coqueluche podem ficar gravemente
doentes, chegando até a morte.
Nove dias após a exposição inicial
à doença de Marina, o Dr. Marcos apresenta coriza e 4 dias depois tosse. O
médico supõe ter contraído um resfriado e recusa a profilaxia recomendada com eritromicina.
Uma investigação mais detalhada identifica outros 5 casos de coqueluche em
profissionais da saúde (um terapeuta respiratório, um técnico radiológico e três
estudantes de enfermagem – todos da clínica médica), além de mais 6 pacientes (3
na pediatria e 3 na clínica médica).
No Brasil, em 2023 foram
registrados 214 casos da doença e em 2024 foram mais de 6 mil casos.
Segundo Eder Gatti Fernandes,
diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do MS - “Os casos graves de
coqueluche estão todos acontecendo nos bebês. Inclusive, os óbitos registrados
até o momento aconteceram em bebês. Esses bebês têm uma característica em
comum: todos são filhos de mães não vacinadas”.
É importante destacar que adultos
a adolescentes podem ser um reservatório para B. pertussis na comunidade,
uma vez que a imunidade decorrente da vacinação infantil começa a declinar
de 5 a 15 anos após a última dose da vacina contra a coqueluche.
No Brasil, a vacinação no SUS
está disponível para crianças de até 6 anos, gestantes e profissionais da saúde
que atuam em maternidades e em unidades de Internação neonatal.
A percepção pública acerca da
importância da vacinação infantil também diminuiu; por conseguinte, muitas
crianças não estão completamente imunizadas. Foi o que aconteceu com o Gael.
Ele não foi vacinado contra a doença, pois seus pais ouviram boatos de que as
vacinas poderiam causar efeitos adversos graves e até mesmo a morte.
- Caso
clínico adaptado do livro: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE,
C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
Perguntas
1. 1.Comente
os resultados dos exames laboratoriais da paciente. A Bordetella pertussis é
uma bactéria gram + ou -?
2. 2.Que outras células poderiam participar na defesa contra a infecção pela bactéria B. pertussis? Quais os mecanismos de defesa destas células?
3. 3.Qual
a explicação imunológica para Gael e o Dr. Marcos não terem desenvolvido a
forma grave da doença?
4. 4.Como
o Dr. Marcos, os outros profissionais de saúde e pacientes contraíram a
infecção?
5. 5.Comente
a atitude dos pais de Marina e Gael frente as vacinas? O que poderíamos fazer
para mudar essa situação?
6. 6.Segundo
o diretor do PNI, os óbitos em crianças pela coqueluche em 2024 têm uma característica
em comum: todos são filhos de mães não vacinadas. Use a imunologia para
comentar sobre este fato. De que forma a vacinação das mães poderia evitar
esses óbitos?
7. 7.O
que você acha sobre o público-alvo para a vacinação contra a coqueluche? Faria
alguma alteração neste público?
Sugestão de leitura: post 1 e post 2
8. 8.Após
o susto, os pais de Marina e Gael decidiram vacinar seus filhos.
a.
Quais vacinas a Marina poderia tomar?
b.
Faça um gráfico semelhante ao da figura 1.2 do
Abbas sobre o título de anticorpo sérico em Gael após a 1ª dose da vacina dTpa
(obs.: O gráfico deve abordar somente os anticorpos contra a bactéria causadora
da Coqueluche).