terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Caso clínico III - Vacinas e infecção

 


O caso clínico abaixo oferece uma oportunidade para discutir a microbiologia e a resposta imunológica frente à infecção/vacinação. É essencial que o aluno(a) compreenda não apenas os aspectos patológicos, mas também as implicações sociais e comportamentais que afetam a saúde da população.

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Marina, bebê de 3 semanas de idade, é levada ao PS da pediatria por seus pais. Nos últimos 5 dias a bebê apresentou febre e tosse, mas agora apresenta uma tosse tão grave que está vomitando.

Gael, 7 anos, irmão de Marina, também está doente. Ele apresenta coriza e tosse branda. Os pais das crianças não acreditavam que a doença de Marina fosse grave até ela começar a vomitar. O Dr. Marcos, médico residente em pediatria, admitiu a bebê no hospital para testes e observações. Ela é hospitalizada por 5 dias.

O Dr. Marcos examina Marina durante os dias de internação no hospital. Em nenhum momento ele utiliza máscara para proteção facial.

 

Resultados dos exames de Marina:

O exame de sangue mostrou a presença de leucocitose e linfocitose absoluta.

O swab da garganta foi positivo para o DNA da bactéria Bordetella pertussis.

 

Diante do diagnóstico positivo para coqueluche, a equipe de saúde entrou com a antibioticoterapia em Marina e solicitou a cultura da garganta dos pais e do irmão Gael. Os resultados da cultura foram negativos nos pais e positivo para B. pertussis em Gael.

Como se observa frequentemente em crianças maiores e adultos, os sintomas de Gael são mais brandos do que os de sua irmã; recém-nascidos que contraem coqueluche podem ficar gravemente doentes, chegando até a morte.

Nove dias após a exposição inicial à doença de Marina, o Dr. Marcos apresenta coriza e 4 dias depois tosse. O médico supõe ter contraído um resfriado e recusa a profilaxia recomendada com eritromicina. Uma investigação mais detalhada identifica outros 5 casos de coqueluche em profissionais da saúde (um terapeuta respiratório, um técnico radiológico e três estudantes de enfermagem – todos da clínica médica), além de mais 6 pacientes (3 na pediatria e 3 na clínica médica).  

 

No Brasil, em 2023 foram registrados 214 casos da doença e em 2024 foram mais de 6 mil casos.

Segundo Eder Gatti Fernandes, diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do MS - “Os casos graves de coqueluche estão todos acontecendo nos bebês. Inclusive, os óbitos registrados até o momento aconteceram em bebês. Esses bebês têm uma característica em comum: todos são filhos de mães não vacinadas”.

É importante destacar que adultos a adolescentes podem ser um reservatório para B. pertussis na comunidade, uma vez que a imunidade decorrente da vacinação infantil começa a declinar de 5 a 15 anos após a última dose da vacina contra a coqueluche.

No Brasil, a vacinação no SUS está disponível para crianças de até 6 anos, gestantes e profissionais da saúde que atuam em maternidades e em unidades de Internação neonatal.

A percepção pública acerca da importância da vacinação infantil também diminuiu; por conseguinte, muitas crianças não estão completamente imunizadas. Foi o que aconteceu com o Gael. Ele não foi vacinado contra a doença, pois seus pais ouviram boatos de que as vacinas poderiam causar efeitos adversos graves e até mesmo a morte.


  • Caso clínico adaptado do livro: TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

 Perguntas

1.     1.Comente os resultados dos exames laboratoriais da paciente. A Bordetella pertussis é uma bactéria gram + ou -?

2.     2.Que outras células poderiam participar na defesa contra a infecção pela bactéria B. pertussis? Quais os mecanismos de defesa destas células?

3.      3.Qual a explicação imunológica para Gael e o Dr. Marcos não terem desenvolvido a forma grave da doença?

4.      4.Como o Dr. Marcos, os outros profissionais de saúde e pacientes contraíram a infecção?

5.      5.Comente a atitude dos pais de Marina e Gael frente as vacinas? O que poderíamos fazer para mudar essa situação?

6.      6.Segundo o diretor do PNI, os óbitos em crianças pela coqueluche em 2024 têm uma característica em comum: todos são filhos de mães não vacinadas. Use a imunologia para comentar sobre este fato. De que forma a vacinação das mães poderia evitar esses óbitos?

7.      7.O que você acha sobre o público-alvo para a vacinação contra a coqueluche? Faria alguma alteração neste público?

Sugestão de leitura: post 1 e post 2

8.      8.Após o susto, os pais de Marina e Gael decidiram vacinar seus filhos.

a.      Quais vacinas a Marina poderia tomar?

b.      Faça um gráfico semelhante ao da figura 1.2 do Abbas sobre o título de anticorpo sérico em Gael após a 1ª dose da vacina dTpa (obs.: O gráfico deve abordar somente os anticorpos contra a bactéria causadora da Coqueluche). 





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